Pouco mais que um século depois, apesar de nunca ter sido rico e com fama apenas regional enquanto em vida, Robert Johnson oferece uma certa similaridade com a história de Paganini e aqueles que o criticavam. Nascido em 1911, negro e descendente de escravos, foi criado em uma fazenda de algodão. Assim, trabalhando no campo desde criança, teve pouca instrução, aprendendo a tocar seu primeiro instrumento, a gaita, sozinho. Quando começou a entrar na maioridade, fugiu de casa para aprender a tocar violão com Son House. Logo passou a tocar junto com os músicos que mais o influenciaram, Charlie Patton e Willie Brown, além do próprio Son House. Juntos, perpetuavam o que se costuma chamar de country blues; o blues rural ou delta blues, pois vinham da região do delta do Mississippi.
Com vinte anos, Johnson descobriu como fazer sua guitarra chorar usando o gargalo de uma garrafa quebrada, deslizando-a pelas cordas. Já se apresentando sozinho, foi o autor de uma série de composições que retrataria diversas amarguras da vida, desde a rejeição carnal até o desconforto espiritual. Suas letras falam de amores violentos, como em "Ramblin' On My Mind" e amores perdidos como em "Love In Vain". Com um certo senso de sutileza, ele fala sobre sexo em letras como a de "Traveling Blues", onde utiliza analogias do tipo "Squeeze my lemon till my juice runs down my leg" ("Espreme meu limão até o suco escorrer pelas minhas pernas") frase hoje mais lembrada na voz de Robert Plant quando este pertencia ao Led Zeppelin. Johnson também falava de perseguição e desespero em canções como "Me And The Devil" e "Hellbound Trail". Essas letras ajudaram amarrar a lenda de um pacto entre o diabo e o bluesman, lembrado até hoje.
Conta-se que Robert Johnson ficou à espera em uma encruzilhada, com seu violão à mão, em uma noite de lua nova. Quando deu meia noite, o diabo em forma de homem apareceu para afinar o instrumento. A partir daí, todos que ouvem suas músicas são encantados por ela. Na verdade Robert Johnson tocava um violão excelente e é mais provável ser a inveja, a origem das lendas que apareceram. Sua genialidade e dom natural são tão mais cativantes, comparando-se aos outros músicos de sua época, que novamente me traz à lembrança o destino infeliz de Paganini. Johnson costumava tocar quase que de costas para o seu público. As pessoas então diziam que ele fazia isto para esconder o olhar do diabo que surgia para auxiliá-lo. Mais coerente seria supor que ele se preocupava em esconder os acordes que bolava sozinho e não queria que outros músicos na platéia o copiassem.
Por volta de 1935, ele perambulava entre as cidades dos estados de Tennessee a Arkansas. Fez uma série de gravações em 1936, que circularam pelo sul e eventualmente chegariam a ser ouvidos pelo norte do país. Acabariam editados em dois álbuns, anos depois de o artista falecer. Em 1937, tocaria com ele em ocasiões esporádicas Alex Miller (Sonny Boy Williamson, o segundo), como também Elmore James e Howlin' Wolf, mas em geral Johnson se apresentava sozinho.
Morreu, acredita-se, no dia 16 de agosto de 1938. Como toda boa lenda, existem diversos rumores para explicar sua morte, mas em geral inclina-se a acreditar que um marido ciumento colocou veneno em sua garrafa de bebida. Johnson era famoso pela atração que causava nas mulheres, como também por atrair as chamadas "mulheres erradas". Ele veio a morrer três dias depois de envenenado, sofrendo dores estomacais horríveis durante esse tempo. Isto explicaria em parte as histórias que contam dele antes de morrer, andando de quatro e uivando como um cachorro, animal muitas vezes associado com o demônio.
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